Quaresma, Fraternidade e Amizade social

bispo-palavraO tempo da quaresma como renovação da vida cristã, nos convida a reencontrar o nosso verdadeiro rosto cristão através da oração e caridade, a fim de modelarmos nossa imagem àquela de Cristo; assim é que poderemos viver uma comunhão mais profunda no seu mistério de morte e ressurreição. É tempo de nós percorrermos o itinerário batismal de penitência e conversão. Tempo liturgicamente forte de mudança de vida, que nos insere ainda mais no Mistério de Cristo. É tempo de alegria, pois iniciamos nossa caminhada rumo à Páscoa de nosso Salvador Jesus Cristo. Os quarenta dias que percorremos é um tempo de graça e de benção, marcado pela escuta da Palavra de Deus, da reconciliação com Deus e com os irmãos. É um tempo em que a igreja, com amorosa insistência, nos chama a mudar de vida. Tempo de oração, jejum, de partilha e gestos solidários; de direcionarmos a misericórdia de Deus aos mais necessitados.

A liturgia deste tempo forte e pedagógico nos prepara para a grande solenidade da Páscoa, que é o centro e ápice da nossa Fé. Cada mensagem semanal nos leva a uma renovação espiritual, convidando-nos a viver este retiro olhando para o alto (oração), para si mesmo (jejum) e para o outro (esmola). É uma experiência de fé que nos transforma pessoalmente e o que está ao nosso redor, isto é, toda realidade do nosso mundo que ainda precisa ser atingida pela força renovadora da Palavra de Deus. Por isso, é importante intensificar a oração, a escuta da Palavra de Deus e a caridade. É um itinerário de obediência a Deus e entrega aos irmãos. O cristão testemunha ainda mais o Evangelho da misericórdia com sinais internos e externos.

Para nós cristãos, todos os dias deste tempo rico nos animam e fazem com que olhemos mais de perto a nossa vida e condição. A conversão é um processo permanente, seja em nível pessoal ou social. Conversão significa uma mudança de sentido ou de rumo. Acreditamos que nunca é tarde para optar pelo bem e abandonar o mal, pois Deus, no seu amor infinito e misericordioso, está sempre pronto a nos acolher e abraçar, como fez com o filho pródigo. Nosso itinerário é sempre de um retorno ao primeiro amor e à fonte de todo bem e de toda graça. Esta é a razão pela qual repetimos, incansavelmente, neste recolhimento espiritual a célebre passagem bíblica: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2 Cor 6, 2). Portanto, temos que aproveitar esta graça que passa diante de cada um de nós. Não deixemos que ela passe em vão.

A Campanha da fraternidade se insere exatamente neste período quaresmal, propondo aos fiéis e à sociedade uma conversão pessoal e comunitária. O tema escolhido pelos bispos do Brasil neste ano foi: Fraternidade e Amizade Social. E o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23, 8). Inspirada no magistério do Papa Francisco, sobretudo na Encíclica “Fratelli Tutti”, a CNBB apresenta uma reflexão rica e atual, já que a Fraternidade e amizade social é um convite a superar toda divisão em fraternidade, ou seja, transformando todo indiferentismo, ódio, intolerância e violência em amizade. Para tanto, o diálogo é a porta para a construção da amizade social; é o caminho para olharmos o mundo e as pessoas de uma maneira renovada. E a amizade é necessária para uma boa convivência humana. Dialogar é “sair de si mesmo para se unir aos outros” (EG, 87). O diálogo acontece quando nós buscamos valorizar o outro na sua identidade, na sua condição, sem pretensão de domínio e desarmado de todo preconceito; fomentando sempre a proximidade e a cultura do encontro; ultrapassando barreiras, num autêntico espírito de fraternidade aberta. É “o amor que se estende para além das fronteiras” (FT, 99).

No contexto de vários conflitos étnicos e bélicos que assistimos no mundo, sobretudo na Europa e no Oriente Médio, o tema desta Campanha da Fraternidade, à luz da Palavra de Deus, quer propor aos cristãos que não desistam de projeto de construção de um novo humanismo, pautado no amor e na paz. Se vivemos numa Casa Comum temos que nos ver como membros de uma só família, buscando o mesmo ideal de fraternidade aberta a todos, respeitando e valorizando a vida e o direito de cada homem e mulher, rejeitando toda forma de descarte do outro e de redução dos valores invioláveis e inegociáveis de cada pessoa.

A superação da indiferença e do isolamento é, certamente, o caminho para uma boa convivência fraterna e solidária, ou seja, a vivência de um amor compartilhado, onde crescemos e desenvolvemos como seres humanos. Por fim, evangelizar é também se comprometer com os irmãos e irmãs; olhá-los com o olhar e os sentimentos de Cristo. Vale aqui recordar que “quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4, 20).

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