Paternidade discreta e humilde

Braso D. Pedro

Tratar da paternidade em um contexto cultural complexo e de constante mutação torna-se um verdadeiro desafio, pois a paternidade não concentra sua definição e função no sujeito de deveres e direitos em relação à prole. A paternidade exige sobretudo amor e responsabilidade. Sem estes dois aspectos nenhuma relação parental é consolidada. Sem entrarmos nos pormenores da paternidade biológica de direito ou de fato, o que subjaz na relação pais/filhos é a constituição dos valores da pessoa humana, adquiridos e desenvolvidos na convivência familiar.

A paternidade, seja ela natural ou não, deve sempre ser identificada por uma relação de amor, afeto e responsabilidade. Tal convivência deve consubstanciar, cada vez mais, a imprescindível liberdade e dignidade humana que, infelizmente, com a atual crise das instituições e pluralidade de laços parentais, nem sempre são preservadas. Se estes valores não estiverem no centro da convivência familiar, a pessoa será objetivada e a relação será sempre desumana, comprometendo o convívio e o vínculo afetivo.

Na carta apostólica Patris Corde Papa Francisco fala da paternidade humilde, simples e silenciosa de São José. “Todos podem encontrar em São José o homem que passa despercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida; um intercessor, um amparo e um guia nos momentos de dificuldade” (PC, Introdução). Durante toda sua vida José não exerceu a paternidade de outra forma. Seu silêncio é um dom e uma entrega ao projeto de Deus. José torna-se pai ao assumir a responsabilidade pela vida do Filho de Deus. A humildade de José está no fato de colocar sempre Maria e Jesus no centro da vida. Neste sentido, a figura de José inspira uma sociedade que, não poucas vezes, apresenta uma paternidade perdida ou desconstruída, levando muitos filhos a se sentirem órfãos.

A paternidade não se limita a introduzir os filhos na experiência da vida, mas em educá-los para a liberdade, pois esta é a lógica do amor de Deus que é Pai e nos criou livres. “O mundo precisa de pais, rejeita dominadores, isto é, rejeita quem quer usar a posse do outro para preencher o seu próprio vazio; rejeita aqueles que confundem autoridade com autoritarismo” (PC, 7). A paternidade como dom, confiança e vocação não permite que os pais decidam pelos filhos ou tomem posse deles, mas que os eduquem para a maturidade de cada opção na vida, respeitando o exercício da liberdade da pessoa.

Peçamos a São José, que assumiu a paternidade de forma humilde, respeitosa e discreta, mas elevada em dignidade, sendo sombra que acompanhou Jesus, a fim de que impelidos por seu testemunho o imitemos no zelo e nas virtudes. São José, guardião da Igreja e das famílias, rogai por nós.

 

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