São José, esposo da virgem Maria e Patrono da Igreja universal

Braso D. Pedro

Deus confiou a São José as “primícias da Igreja”, isto é, Maria e o Menino. Protetor da cabeça e da mãe da Igreja, solícito e vigilante; São José era um homem Justo. Ele viveu a obediência da fé. Foi um fiel cumpridor da vontade de Deus.

O termo Justo, em hebraico (ÇEDEQ), significa ”justiça” (e justificação) no sentido de salvação, o poder e a vontade salvífica de Deus. Deus mesmo é o agente desta justiça. Deus quer justificar o seu povo ao enviar o seu Filho. A justiça de Javé está em suas ações salvíficas, seja na história de Israel, seja no futuro messiânico.

Mateus, no seu Evangelho, usa o adjetivo grego Dikaios. Justo significa inocente, qualidade de não imputável. O justo é o homem de boa conduta. “Sendo Justo” (Mt 1, 19), significa que a decisão de José foi uma decisão de clemência, reveladora não apenas da sua sabedoria e do domínio de si mesmo, mas também de sua benevolência e misericórdia, próprias de um homem justo; pois, para os hebreus, o noivado já era um compromisso decisivo relativo ao matrimônio. Faltava-lhe apenas a sanção da vida em comum ou a dois.

José compreendeu o Mistério da Encarnação de Cristo, concebido por Maria na disponibilidade e gratuidade do serviço a Deus. Depois de Maria, toda a Igreja deve uma singular graça e reverência a São José, como já escreveu São Bernardino de Sena. Tornou-se colaborador disponível e generoso do projeto da salvação com que Deus agraciou toda a humanidade.

Deus escolheu os justos e os simples para realizar seu amor no meio do seu povo. Assim, somos chamados a louvar a Deus pelo “sim” de São José; “sim” não verbal, mas comportamental. Ele não resiste a Deus. Mesmo sem falar, ele pode ser considerado o homem do “sim” (“José fez conforme o anjo do Senhor lhe havia ordenado”). Todos nós nos beneficiamos do silêncio afirmativo de São José. Em um mundo “líquido” e de muitos ruídos, falar de São José parece um sinal de contradição, pois aprendemos com ele a ver a presença de Deus nas pequenas coisas, mesmo sem entender plenamente a vontade Dele.

Na história da salvação coube também a São José dar o nome ao Filho de Deus. O nome indica a identidade, o carisma e a função de Jesus (Ieshuá). Cabia a ele formar Jesus na tradição e na fé dos patriarcas, pois Deus lhe confiou a formação humana, cultural e espiritual de seu Filho. De outro lado, deu-lhe também a graça especial de ser pai de Jesus e da Igreja. Essa graça paterna, São José a exerceu com alegria e humildade.

Celebrar o ano dedicado a São José, como nos orientou de forma inspiradora nosso Papa Francisco, com a Carta Apostólica Patris Corde, publicada por ocasião dos 150 anos da declaração do Esposo de Maria como Padroeiro da Igreja Católica, é celebrar a santidade, a espiritualidade e o silêncio fecundo do pai de Jesus. José foi apenas um servo humilde e perseverante, que abandonou seus projetos pessoais para cumprir o que o Senhor lhe pediu em sonho. Que seu silêncio e seu “sim” nos inspirem a meditar o Mistério de seu Filho, como centro de nossa vida e missão. Aprendamos com São José a beleza singela de nos colocarmos a serviço do plano de Deus, a fim de que suas virtudes produzam em nós muitos frutos. Um abençoado ano de São José a todos os nossos diocesanos.

 

São José, Patrono da Igreja, rogai por nós!

 

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No último dia vinte e oito, a Igreja do Brasil celebrou a Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo. Os dois apóstolos personificam a identidade da Igreja. Por caminhos diferentes, os dois deram o mesmo testemunho. No Evangelho de Mateus, lido no Ano litúrgico A, Jesus pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13). A resposta será dada por Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Tal resposta, vinda do Pai, já contém a semente da futura confissão de fé da Igreja, da qual Pedro é o fundamento e o chefe. Portanto, na definição da identidade de Jesus já desponta o papel eclesial de Pedro, onde a Igreja é convocada a professar a sua fé em comunhão com ele. Pedro aprende o significado real de seguir Jesus, e nos deixa esta lição. “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”, ou seja, onde está Pedro, aí está a Igreja (Santo Ambrósio, Expositio in Ps., XL, §30).
Não são poucos os sinais na vida do apóstolo Pedro que indicam o desejo de Cristo em dar ao mesmo um destaque no Colégio Apostólico; o que se confirma na resposta de Pedro sobre a identidade de Jesus e em outras passagens em que ele fala em nome dos demais apóstolos. “Dentre estes, somente Pedro mereceu representar em toda parte a personalidade da Igreja inteira. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras: ‘Eu te darei as chaves do Reino dos Céus’ (Mt 16,19). Assim manifesta-se a superioridade de Pedro, que representa a universalidade e a unidade da Igreja. A ele era atribuído pessoalmente o que a todos foi dado” (Santo Agostinho, Sermo 295, PL 38, 1348-1352). Deste modo, podemos afirmar que, desde os primórdios, a Igreja reconhece o primado de Pedro e de seus sucessores.
Na última Ceia Cristo confere a Pedro o ministério de confirmar os irmãos, mostrando que o ministério a ele confiado é um dos elementos constitutivos da Igreja, a qual nasce da comunhão da Páscoa celebrada na Eucaristia. Pedro deve ser o guardião da comunhão com Cristo por todos os tempos, ou seja, ele deve guiar o povo à comunhão com Cristo (cf. Bento XVI, Os Apóstolos. Uma introdução às origens da fé cristã. Ed. Pensamento. São Paulo, p. 68). O Concílio Vaticano II sublinhou com sabedoria esta comunhão ao dizer: “Jesus Cristo, Bom Pastor, prepôs aos demais apóstolos o Bem-aventurado Pedro e nele instituiu o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade de fé e comunhão” (LG, 18).
 Neste sentido, torna-se muito oportuno e atual o que vem dito no Catecismo da Igreja Católica: “O papa, bispo de Roma e sucessor de São Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade da Igreja. É o vigário de Cristo, chefe do Colégio dos bispos e Pastor de toda a Igreja, sobre a qual tem, por divina instituição, poder pleno, supremo, imediato e universal” (CIC, 881-882).
Diante de um quadro complexo de proliferações de “magistérios paralelos” em diversos setores de nossa realidade eclesial, gerando confusão e divisão, os bispos, como mestres na fé, e em comunhão com a cabeça do Colégio, devem construir e garantir a unidade da Igreja, pois a cultura do ‘mundanismo’, subjetivismo e relativismo, fere esta mesma unidade querida pelo próprio Cristo (ut omnes unum sint). Não podemos nos sentir Igreja fora da comunhão com o Papa. Somente juntos podemos estar com e em Cristo. Precisamos aprender a caminhar juntos, superando inúteis polarizações.
Por fim, para bem frisar o sentido teológico e litúrgico desta solenidade, vale a pena reler e refletir as preciosas e desafiadoras palavras do Papa Francisco: “Como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra? Deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de lhe dizer: Sim quero! “ (Homilia na Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo. Basílica de São Pedro, 29 de junho de 2020).

 

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