DOM PEDRO FAZ A ABERTURA SOLENE DA QUARESMA NA CATEDRAL SANTO ANTÔNIO EM CAMPANHA / MG

capaA quaresma se caracteriza como um tempo de preparação para a grande festa da Páscoa do Senhor e nossa. São quarenta dias vividos como um caminhar pedagógico e espiritual, quando a comunidade e seus membros buscam assemelhar-se ao Cristo obediente, solidário e vencedor da morte, numa atitude discipular de conversão a Jesus e ao seu projeto. O caminho quaresmal é marcado pela caridade, pelo jejum e pela oração, num clima de deserto.

Os quarenta dias têm um sentido mais teológico-bíblico que numérico. Os cristãos refazem o caminho da Aliança que em Cristo tem o seu sentido e desfecho. Como o povo da primeira aliança, vivemos o “deserto’ quaresmal como tempo de elaboração, tempo de gestação de uma nova pessoa, nova comunidade e nova sociedade. Por isso, os textos bíblicos nos dão o sentido maior desse tempo: os quarenta anos do povo de Deus, transcorridos no deserto; os quarenta dias em que Moisés esteve no Monte Sinai, os quarenta dias em que Golias, o gigante filisteu, desafiou Israel até que Davi avançou contra ele, abateu-o e o matou; os quarenta dias os quais Elias chegou ao monte de Deus, o Horeb; os quarenta dias nos quais Jonas pregou a penitência aos habitantes de Nínive; e, principalmente, o jejum de quarenta dias de Jesus Cristo.

Jesus é o protagonista da Quaresma: sobe a Jerusalém, faz o caminho da cruz e, passando pela morte, chega à nova vida que o Pai lhe dá. É em Cristo que, a cada ano, revivemos essa experiência pascal.

Na igreja antiga, o tempo quaresmal era um tempo catecumenal: era o período em que os catecúmenos, por meio de penitência, jejum e oração se preparavam para serem batizados na Vigília Pascal.

As leituras propostas para este ano, o Ano Litúrgico C, sublinham a conversão de coração e o perdão.

A celebração

Dom Pedro Cunha Cruz, bispo diocesano, fez a abertura solene do tempo quaresmal e também da Campanha da Fraternidade 2019 na Catedral de Campanha. Concelebrou o pároco e chanceler do bispado, Pe. Luzair Coelho de Abreu. Grande número de fiéis estiveram presentes, lotando todos os bancos do templo, bem como os corredores laterais. Cantou a celebração o Coral Catedral, sempre presente nos principais momentos litúrgicos da paróquia.

 Homilia

Em sua homilia, D. Pedro ressaltou a importância da Quaresma para a vida do cristão, bem como a importância da Campanha da Fraternidade para a Igreja do Brasil.

“O Catecismo da Igreja Católica ensina que o chamado de nosso senhor Jesus Cristo à conversão e à penitência “não visa em primeiro lugar às obras exteriores, ‘saco e a cinza’, os jejuns e as mortificações, mas à conversão do coração, à penitência interior. Sem ela, as obras de penitência continuam estéreis e enganadoras: a conversão interior, ao contrário, impele a expressar essa atitude por sinais visíveis, gestos e obras de penitência” (CIC 1430)

“Oração, jejum e esmola são importantes práticas durante a Quaresma e são uma grande ajuda para o nosso crescimento espiritual. Tais práticas nos ajudam em nossa jornada de conversão. No entanto, estas não devem ser realizadas apenas como um cumprimento externo, mas como expressão de nossa disposição interior. A conversão de nossos corações deve ser aquilo que os Padres da Igreja chamaram de compunctio cordis, ou seja, arrependimento do coração.”

“A boa notícia da Quaresma é que Deus nos dá força para começarmos de novo. Ele nos dá sua graça. Pensemos especialmente no grande dom que nos deu no Sacramento da Penitência e da Reconciliação. Jesus instituiu este sacramento para nos oferecer uma nova oportunidade de conversão e restauração à graça de Deus. Portanto, há uma verdadeira ‘ressurreição espiritual’ em nós. Em certo sentido, passamos da morte para a vida quando vamos à confissão e recebemos a absolvição.”

“Como proposta de reflexão e de transformação de um quadro social, a Igreja do Brasil, através da Campanha da Fraternidade, traz como tema este ano: Fraternidade e Políticas Públicas. E lema: ‘serás libertado pelo direito e pela justiça’ (Is 1, 27). O objetivo da Campanha é despertar a consciência e incentivar a participação de todo cidadão na construção de uma sociedade melhor e no testemunho concreto da fé de cada cristão. Se as políticas públicas forem dignas, elas asseguram os direitos sociais de todos nós, sobretudo dos mais frágeis e vulneráveis. Aqui cabe nosso empenho de cristãos comprometidos, que lutam junto aos gestores públicos, com o propósito de promoverem o bem comum. Na verdade, fazer uma boa política, independente de qualquer opção partidária, significa construir uma verdadeira fraternidade, respeitando e resgatando a dignidade de cada irmão e irmã. Tais políticas devem perpassar todos os setores da existência humana como educação, saúde, saneamento e outros, afinal o direito é para todos independente do gênero, raça e condição social de seus destinatários. O objetivo só será atingido com nossas consciências renovadas e no empenho evangelizador de todos nós em vista de uma sociedade mais justa e solidária.”

As cinzas

O sinal mais visível da celebração de quarta-feira, é a bênção e imposição de cinzas nos fiéis. A quarta-feira de cinzas, como já mencionado, marca o início da Quaresma. Para os antigos judeus, sentar-se sobre as cinzas já significava arrependimento dos pecados e volta para Deus. As cinzas bentas e colocadas sobre as nossas cabeças nos fazem lembrar que vamos morrer, que somos pó e ao pó da terra voltaremos (cf. Gn 3, 19), para que nosso corpo seja refeito por Deus de maneira gloriosa, para não mais perecer.

Na Igreja Antiga, o sacramento da penitência era público e constituía de fato o rito que dava início ao caminho de penitência dos fiéis que seriam absolvidos na celebração da manhã da Quinta-feira Santa. Mais tarde, o gesto da imposição das Cinzas – obtidas queimando os ramos de oliveiras benzidas no Domingo de Ramos do ano anterior – estendeu-se a todos os fiéis e foi colocado dentro da celebração da Missa, no final da homilia. Também a fórmula que acompanha, com o tempo foi mudada: no início era “recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar!” extraído do Gênesis. Hoje é dito: “Convertei-vos e crede no evangelho.”

Texto e fotos: Flávio Maia – PasCom da Paróquia Santo Antônio – Campanha / MG

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