A PÁSCOA DOS CRISTÃOS

 

pascoa1(uma compreensão a partir da liturgia que celebramos)

  

Os cristãos, desde suas mais remotas origens, celebram a Páscoa (paixão, morte e ressurreição de Jesus) uma vez por semana. O domingo é a Páscoa semanal dos cristãos.

 

A partir do século II, as Igrejas cristãs passaram a celebrar a Páscoa também uma vez por ano, então com um destaque todo especial, a saber, mediante um Tríduo Sagrado, isto é, em três dias sucessivos, chamado Tríduo Pascal:

 

1o dia (sexta-feira, cujo início já se dá a partir do anoitecer da quinta-feira): Tem início com a Missa da Ceia do Senhor na tarde da quinta-feira, solene abertura do Tríduo Pascal, cujo gesto marcante é o Lava-pés, sinal que expressa a concepção eucarística do Evangelho de João, e prossegue na celebração da Paixão do Senhor na sexta-feira pelas três horas da tarde cujo gesto central é a adoração de uma só cruz, lenho santo onde pendeu o salvador do mundo. Este 1º dia celebra todo o sofrimento do Senhor e sua morte na cruz, prefigurada e tornada sacramento eucarístico na última ceia.

2o dia (sábado, cujo início já se dá a partir ao anoitecer da sexta-feira): é um dia sem celebração alguma: não há missa nem se administram os outros sacramentos (exceto a unção dos enfermos «in articulo mortis»); celebra o repouso de Jesus no sepulcro, bem como sua descida à mansão dos mortos, onde ele anuncia a libertação dos grilhões da morte a todos que esperavam pelo momento em que as portas do céu deviam se abrir, como ensina a Primeira Carta de Pedro (3,19-20; 4,6). É um dia de silêncio, de continuação do jejum, de recolhimento na paz e na espera.

3o dia (domingo, cujo início já se dá ao anoitecer de sábado), celebra a gloriosa ressurreição do Senhor dentre os mortos, razão da nossa fé (cf. 1Cor 15) numa solene Vigília Pascal – «a mãe de todas as vigílias», como disse Sto. Agostinho – celebrada na noite do sábado onde se confecciona e acende o Círio Pascal, sinal de Cristo Ressucitado que guia a sua Igreja como a «shequiná» (nuvem luminosa) que guiou o povo de Deus no deserto. Esta liturgia é eminentemente batismal. Benze-se a água, acendem-se as velas, renovam-se as promessas do Batismo, asperge-se todo o povo com a água abençoada. Pois, é por meio do Batismo, porta aberta para os outros sacramentos, expressão de toda a nossa vida sacramental, que nós participamos da Páscoa de Cristo: com Ele morremos para com Ele ressuscitarmos.

 

A quaresma por sua vez, como tempo de preparação que neste ano (A) nos conduziu às fontes do Batismo, só tem seu fim com o início do Tríduo Sagrado, ou seja, com o início da Missa da Ceia do Senhor.

pascoa2Tão grande é a Solenidade Pascal, a maior e mais expressiva da fé cristã, que ela não cabe num só dia. São necessários três, o Tríduo Pascal, para celebrá-la. Mas, ainda é pouco!

Há uma Oitava Pascal desde o Domingo de Páscoa (que é o 1º) até o 2º Domingo da Páscoa – outrora chamado Domingo «in albis», pois só nesse dia os batizados na Vigília Pascal tiravam a veste branca, agora conhecido como domingo da Divina Misericórdia – todos os dias tem o mesmo grau de solenidade, a mesma intensidade celebrativa do Domingo de Páscoa, mas ainda é pouco!

No Domingo de Páscoa tem início o Tempo Pascal, um prolongamento de 50 dias, até Pentecostes para, por meios da liturgia, adentrarmos ainda mais no Mistério Pascal de Cristo, centro da vida litúrgica da Igreja, que é fonte donde promana toda sua força e cume/meta para onde se encaminha toda vida cristã (cf. SC 10). Mas, ainda é pouco! Ela se prolongará em cada domingo ao longo do ano: todo domingo é páscoa!

«Infelizmente, em muitos lugares a liturgia reduz-se a uma proclamação de textos e execução técnica de gestos, sem cantos, sem uma linguagem verbal e não-verbal que manifeste o mistério e a arte de bem celebrar. É urgente, uma liturgia séria, simples, bela, que seja experiência do mistério, permanecendo, ao mesmo tempo, inteligível, capaz de narrar a perene aliança de Deus com os homens. Um equilíbrio entre a Palavra e o Sacramento – equilíbrio entre a palavra, o canto, o silêncio e o rito. A liturgia é continuação e atualização do mistério de Cristo e da história da salvação, celebrada por meio dos ritos e dos sinais. A liturgia não é só memória mas presença no “hodie” (hoje) litúrgico; ela celebra sempre o mistério de Cristo que «…é sempre igual e igual na sua plenitude» (D. José Cordeiro, bispo de Bragança e Miranda, Portugal, grifo nosso).

A todos, feliz e santa páscoa! Que a vida nova do Senhor, inaugurada com sua ressurreição transforme cada um de nossos dias em centelhas de eternidade feliz, enchendo-os de plena vida.

 

Pe. Jean Poul Hansen,

Coordenador Diocesano de Pastoral e

Mestre em Teologia Dogmática.

 

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