PASCOM LANÇA UM FOLHETO SOBRE “FAKE NEWS E JORNALISMO DE PAZ”

Pascom-2018“A verdade vos tornará livres” (Jo 8,32)

Mensagem do Papa Francisco para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais – 13 de maio de 2018

Que há de falso nas “notícias falsas”?

A expressão Fake News é objeto de discussão e debate. Geralmente diz respeito à desinformação transmitida on-line ou nos meios de comunicação tradicionais. Assim, a referida expressão alude a informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar a até a manipular o destinatário. A sua divulgação pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros econômico.

A eficácia das Fake News deve-se, em primeiro lugar, à sua natureza mimética, ou seja, à capacidade de se apresentar como plausíveis. Falsas mas verossímeis, tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos generalizados no seio dum certo tecido social, explorando emoções imediatas e fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração. A sua difusão pode contar com um uso manipulador das redes sociais e das lógicas que subjazem ao seu funcionamento: assim os conteúdos, embora desprovidos de fundamento, ganham tal visibilidade que os próprios desmentidos categorizados dificilmente conseguem circunscrever os seus danos.

A dificuldade em desvendar e erradicar as Fake News é devida também ao fato das pessoas interagirem muitas vezes dentro de ambientes digitais homogêneos e impermeáveis a perspectivas e opiniões divergentes. Esta lógica da informação tem êxito, porque, em vez de haver um confronto sadio com outras fontes de informação (que poderia colocar positivamente em discussão os preconceitos e abrir para um diálogo construtivo), corre-se o risco de se tornar atores involuntários na difusão de opiniões tendenciosas e infundadas. O drama da desinformação é o descrédito do outro, a sua representação como inimigo, chegando-se a uma demonização que pode fomentar conflitos. Deste modo, as notícias falsas revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isto que leva, em última análise, a falsidade.

Como podemos reconhecê-las?

Nenhum de nós se pode eximir da responsabilidade de contrastar estas falsidades. Não é tarefa fácil, porque a desinformação se baseia muitas vezes sobre discursos variegados, deliberadamente evasivos e sutilmente enganadores, valendo-se por vezes de mecanismos refinados. Por isso, são louváveis as iniciativas educativas que permitem aprender como ler e avaliar o contexto comunicativo, ensinando a não ser divulgadores inconscientes de desinformação, mas atores do seu desvendamento. Igualmente louváveis são as iniciativas institucionais e jurídicas empenhadas na definição de normativas que visam circunscrever o fenômeno, e ainda iniciativas, como as empreendidas pelas tech e media company, idôneas para definir novos critérios capazes de verificar as identidades pessoais que se escondem por detrás de milhões de perfis digitais.

“A verdade vos tornará livres” (Jo 8,12)

O antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade. A verdade tem a vem com a vida inteira. A verdade é aquilo sobre o qual nos podemos apoiar para não cair. Neste sentido relacional, o único verdadeiramente fiável, e digno de confiança sobre o qual se pode contar, ou seja, o único “verdadeiro” é o Deus vivo. Eis a afirmação de Jesus: “Eu sou a verdade” (Jo 14,6). Sendo assim, o homem descobre sempre mais a verdade, quando experimenta em si mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. Só isto liberta o homem: “A verdade vos tornará livres” (Jo 8,32).

Libertação da falsidade e busca do relacionamento: eis aqui os dois ingredientes que não podem faltar, para que as nossas palavras e os nossos gestos sejam verdadeiros, autênticos e fiáveis. Para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor.

A paz é a verdadeira notícia

O melhor antídoto contra as falsidades são as estratégias, mas as pessoas: pessoas que, livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga dum diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem. Se a via de saída da difusão da desinformação é a responsabilidade, particularmente envolvido está quem, por profissão, é obrigado a ser responsável ao informar, ou seja, o jornalista, guardião das notícias. No mundo atual, ele não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão.

Por isso desejo convidar a que se promova um jornalismo de paz. Penso num jornalismo sem fingimentos, hostil às falsidades a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos.

Sete dicas para não se deixar enganar pelas Fake News:

1)        Checar a credibilidade da fonte: Verifique se a notícia ou artigo compartilhados em redes sociais também foram publicados em veículos da imprensa profissional. Empresas jornalísticas têm por regra checar informações, divulgando-as apenas depois de confirmá-las com uma segunda ou terceira fonte.

2)        Fica atento à data da publicação: em alguns casos Fake News não são necessariamente notícias falsas, mas links que remetem a fatos que aconteceram no passado e são trazidos à tona fora do contexto por indivíduos com propósitos específicos.

3)        Obsevar o link da notícia: Para aumentar seu poder de fogo, alguns sites propagadores de notícias falsas têm endereços inspirados em nomes de veículos tradicionais, mas com pequenas modificações na grafia.

4)        Prestar atenção à aparência do conteúdo e da página: Sites profissionais, em geral, exibem páginas organizadas, fotografias com crédito do autor e textos sem expressões exageradas ou ofensivas. Desconfie de sites anônimos;

5)        Verificar se a reportagem contém referências: reportagens feitas por profissionais têm links de referências para outras páginas, para determinado autor ou estudo acadêmico. Um artigo sem essas características não pode ser confiável.

6)        Pesquisar a credibilidade do autor: Jornalistas e articulistas são pagos para escrever. Ao ler artigos assinados por um determinado autor, verifique no Google se há outras publicações em seu nome em sites ou veículos confiáveis.

7)        Não acreditar em tudo que amigos ou familiares compartilham: A proximidade afetiva faz com que as pessoas confiem facilmente em conteúdos compartilhados por amigos e familiares. O problema é que até pessoas de quem se gosta podem ser enganadas fake News.

(Fonte: Universidade de Salford, FactCheck, org, Universidade do Estado da Pensilvânia, in Veja, Ed. 2565).

Inspirando-nos numa conhecida oração franciscana, poderemos dirigir-nos, à Verdade em pessoa, nestes termos:

Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz,

Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não cria comunhão.

Tornai-nos capazes de tirar o veneno dos nossos juízos.

Ajudai-nos a falar dos outros como irmãos e irmãs.

Vós sois fiel e digno de confiança; fazei que as nossas palavras sejam sementes de bem para o mundo:

onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta;

onde houver confusão, fazei que inspiremos harmonia;

onde houver ambigüidade, fazei que levemos a clareza;

onde houver exclusão, fazei que levemos a partilha;

onde houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade;

onde houver superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos verdadeiros;

onde houver preconceitos, fazei que despertemos a confiança;

onde houver agressividade, fazei que levemos o respeito;

Onde houver falsidade, fazei que levemos a verdade.

Amém!

 

Pastoral da Comunicação – Diocese da Campanha - CNBB

 

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