PRIMEIRO ANO DE FALECIMENTO DE MONSENHOR JOSÉ HUGO

WhatsApp Image 2020-04-24 at 22.34.37“UM DIA, ISSO SERÁ AGRADÁVEL DE SE RECORDAR”

Da mesma forma que o sol se ergue fulgurante ao romper da aurora, como sinal glorioso do Cristo que ressuscitou dos mortos “como primícias dos que morreram” (1Cor 15, 20), mas, no decurso do dia, desliza em humilde silêncio para os braços do crepúsculo, a vida humana se desdobra, no tempo e no espaço, qual a urdidura de um hábil tecelão que, enquanto labora, reza e canta pelos dons que a divina mercê concede, na ordinariedade da existência, àqueles que escancaram o coração para a novidade sempre viva e dinâmica do Espírito Paráclito, porque, para se reconhecer o mistério da salvação acontecendo no hoje da fé, é preciso amar muito.

Mas esse amor, que só é possível aos que se encantam com a presença do Amado (Ct 3, 4), não se detém no mero sentimentalismo utópico dos que vivem à procura de aventuras, mas se constitui uma robusta coluna luminosa que, nas trevas, dissipa qualquer dubiez (Ex 13, 21), porque o amor se “alegra com a verdade” (1Cor 13, 6). Sobretudo, o amor de quem faz a experiência com o Amado é capaz de resistir a toda e qualquer situação, pois ele “ tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta” (1Cor 13, 7).

Neste dia 25 de abril, celebramos o primeiro ano do falecimento de Monsenhor José Hugo Goulart e Silva, presbítero do clero da Campanha. Faltariam linhas e parágrafos para elencar as virtudes desse homem que se destacou, sem dúvida, pela fineza no trato, pela discrição na vida e na fala, pela caridade fraterna, pela disponibilidade no serviço à Igreja, pela fidelidade aos bispos, pelo cuidado para com os seminaristas e sacerdotes, pela devoção à Virgem das Dores e São José, mas, sobretudo, pela santidade de uma vida que fugia dos primeiros lugares para se ocupar unicamente com as coisas do alto.

Monsenhor José Hugo foi um homem que viveu intensa e plenamente, e que amou muito. Em seu testamento, deixou-nos a reconfortante certeza: “meus olhos estão cerrados para este mundo, enquanto o meu coração repousa no Senhor, que foi a razão dos meus dias, enquanto na Terra tive a oportunidade de caminhar”. Santo Agostinho, Bispo de Hipona, antes dele, já no século IV de nossa era, proclamou: feciste nos ad te, Domine, et inquietum est cor nostrum donec requiescat in te1. Monsenhor José Hugo soube traduzir perfeitamente essa dimensão da entrega total a Deus na sua vida e nas suas atitudes. Ainda menino, ele foi admitido ao Seminário Diocesano Nossa Senhora das Dores, conduzido àquela casa pelas próprias mãos de Dom Inocêncio Engelke, como ele mesmo sempre gostou de recordar, e de lá nunca mais saiu. Seja como professor de inúmeras disciplinas, diretor espiritual ou confessor, a presença daquele padre, junto à formação sacerdotal, sempre foi muito cara.

A delicadeza no olhar de Monsenhor José Hugo evocava os dizeres do Cristo no Evangelho segundo João: Ego sum Pastor bonus. Bonus Pastor animam suam dat pro ovibus suis. Ego sum pastor bonus. Cognosco oves meas et cognoscunt me meae2 (Jo 10, 11. 14). Como bom pastor que era, sempre se preocupou em atender com caridade e gentileza os que lhe procuravam para pedir um conselho, uma benção ou, simplesmente, para sentir a paz de sua presença. Quantas vezes, durante algum encontro, se ouviu da boca daquele homem: “sua presença foi um grande carinho para o meu coração. Muito obrigado. Que Deus te abençoe”. Estar com Monsenhor José Hugo era fazer a mesma experiência de Pedro no Monte Tabor, quando ele disse a Jesus: Domine, bonum est nos hic esse3 (Mt 17, 4), ou dos discípulos de Emaús, que pediram ao Ressuscitado: Mane nobiscum, Domine!4             

Em 2018, numa celebração eucarística realizada no oratório do Seminário Propedêutico São Pio X, na presença dos seminaristas das etapas propedêutica e discipular, em sua homilia, Monsenhor José Hugo disse aos jovens vocacionados: “Espero que vocês, um dia, cheguem à minha idade e, assim como eu, olhem para trás e digam a si mesmos ‘tudo valeu muito a pena’ e, acima de tudo, tenham a certeza de que foram muito felizes”. À semelhança de Virgílio que, outrora, proclamou: haec olim meminisse iuvabit5, também hoje, nós reconhecemos que a memória de Monsenhor José Hugo é digna de ser lembrada com alegria.

Por isso, nós, seminaristas da Diocese da Campanha, celebramos a páscoa de Monsenhor José Hugo não envolvidos pelo luto e pela tristeza, mas pela saudade e pela gratidão por tudo de bom e santo que ele realizou pelo nosso Seminário Diocesano, o qual ele muito amou e, por isso, recebeu o título de patrono, tendo a firme esperança de que ele cumprirá sua promessa: “ao abrir meus olhos diante da face misericordiosa de Deus, farei com que Ele, ao olhar o mais íntimo de mim, tome conhecimento de cada um que amei com amor de Pastor, mesmo sem conseguir parecer com o Pastor Bom”.  


Seminário Diocesano Nossa Senhora das Dores

Campanha, 25 de abril de 2020

 

1. “Fizeste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti”.

2. “Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem”.

3. “Senhor, é bom estarmos aqui”.

4. “Fica conosco, Senhor!”

5. “Um dia, isso será agradável de se recordar”.

 

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