ORIENTAÇÕES E REFLEXÕES SOBRE AS ELEIÇÕES 2018

diocese-mapa“Nossa pátria é grande, mas será realmente grande quando o for para todos, com maior justiça. Na verdade, é uma contradição dolorosa que o Continente com o maior número de católicos seja também o de maior iniquidade social” (Documento de Aparecida, 527).

O Brasil sempre passou por delicadas situações políticas e econômicas. Nosso país ainda dá os primeiros passos na consolidação de sua jovem democracia e não chegou sequer a 200 anos de independência política. Além do mais, ainda há muita emancipação a conquistar do ponto de vista cultural, econômico, social, intelectual e também político.

Diante de nossa situação tão complexa, não podemos, porém, alimentar uma autovisão negativa nem a desesperança. Ao contrário, o caminho para o avanço de nossa tão atacada cidadania passa pela defesa da democracia e do Estado de direito, realidades políticas pelas quais a Igreja nutre considerável inclinação e simpatia (cf. Centesimus Annus, 46; Ecclesia in America, 19).

A Diocese da Campanha, consciente de sua missão evangelizadora e movida pelo desejo de “promover a Dignidade da Pessoa, renovar a Comunidade e construir uma Sociedade Solidária” (Plano Diocesano de Pastoral 2016-2020, Introdução), apresenta, neste texto, algumas reflexões teológico-pastorais a fim de ajudar o povo diocesano e a todas as pessoas de boa vontade em seu discernimento e escolha quanto às opções de candidatos e de propostas político-partidárias.

Neste sentido, orientamos ao povo que se encontra em nossa amada Diocese a:

  • Que não desanime de sua esperança (cf. Hb 10, 23) na política, que “é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (Evangelii Gaudium, 205). A política não é coisa suja. Pelo contrário, “ela é essencial para a transformação da sociedade” (CNBB, Doc. 105, 263a) e precisa de que os cristãos “se metam nela” com espírito evangélico, como exortou o Papa Francisco (07 de junho de 2013).
  • Que seja sal e luz do Reino de Deus na sua realidade social específica, vivendo os princípios evangélicos desde as pequenas coisas, sabendo que dará um grande contributo para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Muitas vezes, os grandes casos de corrupção nascem das pequenas incoerências e concessões cotidianas ao espírito egoísta, consumista e hedonista. Assim, a libertação que desejamos “é antes de tudo libertação da escravidão radical do pecado” (Libertatis Nuntius, Introdução).
  • Que defenda o princípio da dignidade integral da pessoa humana e não admita quaisquer formas de discriminação. Todo homem é “imagem e semelhança” de Deus (cf. Gn 1, 26) e é chamado à comunhão com Ele e com os irmãos. O anúncio desse evangelho do humanismo integral é um belo caminho para a justiça social, e marca a distinção da Doutrina Social da Igreja em relação aos sistemas e ideologias que reduzem o homem à mera dimensão materialista e individualista, sejam de viés direitista ou esquerdista (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja – DSI, 376). “O desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve [...] promover todos os homens e o homem todo” (Populorum Progressio, 14).
  • Que busque conhecer o profundo tesouro da Doutrina Social da Igreja, encontrando aí “os princípios de reflexão, os critérios de julgamento e as diretrizes da ação donde partir para promover esse humanismo integral e solidário” (Comp. DSI, 7). Ela não é apenas uma orientação social, mas um importante instrumento de evangelização que “ilumina a dimensão social da fé” (CNBB, Doc. 105, 237; cf. Centesimus Annus, 54). Conhecê-la “é uma autêntica prioridade pastoral” (Ecclesia in America, 54).
  • Que se empenhe em conhecer os planos de governo dos candidatos ao Poder Executivo e seus partidos. Não podemos apoiar propostas ofensivas à dignidade humana, tais como aquelas que defendem a tortura (cf. Comp. DSI, 404), a pena de morte (cf. Comp. DSI, 405), o aborto (cf. Comp. DSI, 570), o avanço da cultura armamentista (cf. Comp. DSI, 511), a imposição das leis de mercado sobre o trabalho, a dominação econômica sobre a política e os reducionismos materialistas (cf. Comp. DSI, 271.318; Documento de Puebla, 546). A sacralidade da vida humana é uma verdade integral, não sendo admissíveis nenhum ataque a ela por meio de projetos que atentem tanto contra a vida dos nascituros quanto contra a vida daqueles “que já nasceram e se debatem na miséria” (Gaudete et Exsultate, 101).
  • Que se dedique também em conhecer com profundidade e responsabilidade as propostas dos candidatos ao Poder Legislativo, consciente de que em nosso modelo presidencialista esses parlamentares exercem decisiva importância nos encaminhamentos e na condução do País, ao ponto, inclusive, de, frequentemente, interferir diretamente na governabilidade do Executivo.
  • Que tenha clareza de que “o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo” (Populorum Progressio, 14).
  • Que não dê o seu voto a candidatos que estão procurando reeleição motivados “pela busca do foro privilegiado e outras vantagens” (CNBB, Eleições 2018: compromisso e esperança). Não podemos por a perder os princípios da chamada “Lei da Ficha-Limpa” (Lei 135/2010). “Não merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade” (CNBB, idem).
  • Que seja exigente nos critérios de escolha dos candidatos e que se disponha a fiscalizar os seus respectivos mandatos, não reduzindo o exercício de sua cidadania apenas ao ato de votar. É fundamental que todos os candidatos participem de debates públicos e apresentem com clareza suas propostas para todas as realidades do Brasil, e que todos os eleitores responsavelmente se envolvam com o processo eleitoral, antes, durante e depois das eleições.

Por fim, vigiemos para que esse período eleitoral não seja ocasião para novamente colocar em estado de inimizade irmãos contra irmãos. Muito preocupa o posicionamento daqueles que, baseados em interpretações superficiais e subjetivas do direito canônico, divulgam acusações de excomunhão dos irmãos por ocasião de suas supostas opções políticas, considerando-as “algo superficial, mundano, secularizado, imanentista, comunista, populista” ou, de modo reducionista, “como se houvesse outras coisas mais importantes, como se interessasse apenas determinada ética ou um arrazoado que eles defendem” (Gaudete et Exsultate, 101). Tenhamos consciência da responsabilidade que carregamos na construção social de nosso País, bem como da urgente missão de transformar a atual sociedade na “civilização do amor”. Nesse contexto, não nos esqueçamos de que “qualquer escolha deve ser radicada na caridade e voltada para a procura do bem comum. As instâncias da fé cristã dificilmente são assimiláveis numa única posição política: pretender que um partido ou uma corrente política correspondam completamente às exigências da fé e da vida cristã gera equívocos perigosos. O cristão não pode pretender encontrar um partido que responda plenamente às exigências éticas que nascem da fé e da pertença à Igreja: a sua adesão a uma corrente política não será jamais ideológica, mas sempre crítica, a fim de que o partido e o seu projeto político sejam estimulados a realizar formas sempre mais atentas de obtenção do verdadeiro bem comum, incluindo os fins espirituais do homem” (Comp. DSI, 573). Vote! Não anule seu voto nem vote em branco, pois nada disso anula uma eleição! Comprometamo-nos!

Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, interceda por nós.

Graça e Paz.

Prof. Elvis Rezende Messias

(Instituto Filosófico São José)

D. Pedro Cunha Cruz

(Bispo Diocesano da Campanha)

 

 

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